segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Duas hipóteses fantasiosas sobre riscos de transgênicos: castelos de cartas e experimentos viciados fizeram a festa no debate.

Há duas semanas (14 agosto de 2013) houve um debate em Porto Alegre, organizado pela Agapan sobre transgênicos, os interesses econômicos e riscos para a vida (http://agapan.blogspot.com.br/2013/08/transgenicos-interesses-economicos-e.html). Não estive presente, afinal são 3.000 km de distância entre nós, mas estive analisando a postagem no site da Agapan. De lá tirei estas frases:

Alguns produtores rurais já percebem a recusa por parte de certos animais em consumir alguns alimentos típicos de suas dietas. Heck relatou o depoimento de um produtor que afirma não ter mais seus armazéns atacados por ratos após ter iniciado o cultivo de transgênicos. Esta constatação pode ser um indício de que o instinto de sobrevivência desses roedores indique que o alimento não é ideal para consumo. Já há relatos, também, no interior do RS, de que caturritas estão deixando de se alimentar das lavouras plantadas com milho transgênico. Para o produtor, do ponto de vista econômico, este aspecto pode representar maior rentabilidade. No entanto, para o consumidor o risco é o de ingerir grandes quantidades de veneno que podem levar a quadros de saúde de baixa qualidade”.

Bravo! A partir de umas poucas impressões de agricultores, sem qualquer tipo de desenho experimental, estatística, etc., o Sr. Heck avança imediatamente a hipótese de que a rejeição ao alimento é real. Daí ele salta para criar uma hipótese para esta recusa. Poderiam ser dezenas para cada um dos casos, mas por alguma razão (ativismo anti-OGM?), ele especula que há algo de errado nestes grãos, que é percebido por ratos e pássaros, e que este “algo errado” é que os grãos são transgênicos. Admitindo mais uma vez que sua hipótese seja verdadeira, ele extrapola criando uma próxima hipótese: a de que estes grãos farão mal à população humana. Fantástico o poder que uma simples impressão de um agricultor tem em desencadear uma descoberta científica completa!. Este procedimento é o que, em ciência, chamamos castelo de cartas. O ativismo ambiental superou, neste caso, a ciência com enorme vantagem. Uma pena para o público que lá foi esperando informação.


Paradigmaticamente, esteve lá também um outro especialista em transgênicos, apresentando outra hipótese igualmente fantasiosa, baseada em experimentos desenhados a bico de pena para deturpar os resultados em direção a uma condenação do milho GM. Como uma foto vale mais que mil palavras, vai a seguir (também do mesmo post da Agapan).


PS. Um amigo acaba de me contar uma história boa, que tem tudo a ver com o caso gaúcho: contou-lhe o Jose Maria Mulet (veja o blog dele em http://www.losproductosnaturales.com/). Uma senhora lhe disse que os javalis na Espanha só comiam milho não GM e rejeitavam os milhos-GM. Todos nós sabemos que os javalis não são o que poderíamos chamar de um gourmet. Seria ótimo se assim fosse porque a União Europeia gasta uma fortuna para identificar se há OGM nas cargas. Bastaria soltar esse javalis e o teste estaria feito. O problema é que na região da dita senhora nunca foram plantados milhos GM e portanto os tais javalis não tiveram a chance de comparar milhos GM e não-GM...

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